A maioria de quem passa por uma pequena capela cheia de velas acesas, crucifixos, muletas e outros apetrechos religiosos, a uma quadra da antiga Rodoviária de Campo Grande, não imagina que oratório marca o ponto onde foi cometido um dos crimes que mais chocou a população campo-grandense.Uma menina de 7 anos, Carminha, foi estuprada, morta e abandonada no local em meados dos anos 30. Um amigo dos pais da garota foi identificado como o estuprador e assassino. Ele a teria aliciado com balas e doces para cometer o estupro e a matar. O corpo foi encontrado já em adiantado estado de decomposição, exatamente onde atualmente fica a capelinha.Como era costume na época, uma cruz foi fincada no local da morte e, pouco depois, ganhou um oratório que evoluiu com construções voluntárias até se tornar a pequena capela que existe até hoje, em homenagem à Santa Carminha. A vítima, considerada santa por fiéis católicos, não tem qualquer registro oficial da Igreja Católica.Carminha era de uma família de imigrantes italianos e o crime revoltou a população da cidade. Os homens se juntaram, capturaram o suspeito e o lincharam. Depois de morto, ele ainda teve o corpo amarrado a cavalos e dilacerado com os animais sendo disparados para lados opostos.Embora passados quase 80 anos de sua morte, a santa campo-grandense continua atraindo fiéis que buscam graças e milagres. De acordo com o relato de historiadores, vizinhos e devotos.A aposentada, Marta Yanaze, de 85 anos, se tornou devota da santa quando ela e o marido, naturais de Bauru (SP), se mudaram para Campo Grande há cerca de 40 anos. “Eu tinha umas dores no quadril e fiz promessa para a santa. Cumpri o prometido e as dores sumiram. Desde então agradeço todos os dias a ela”, lembra.O vizinho da capelinha, João Antônio Teixeira, de 58 anos, conta que, frequentemente, os fiéis vêm ao local, onde o corpo da santa foi encontrado e, posteriormente, foi construído uma capela em sua homenagem. “Até hoje eles visitam aqui na frente, oram e pedem graças. Sempre vejo presentes, muletas e bengalas deixadas ali”.Um dos casos mais notórios de devoção foi o da Dona Florência. De acordo com os vizinhos da capela, esta senhora fazia a limpeza do santuário, voluntariamente, pelo menos duas vezes por semana. A causa de tanta dedicação foi um milagre concedido pela santa.“Eu sempre conversava com a Florência. Como ela caminhava normalmente, só anos depois fui saber que ela não andava quando era jovem, por portar paralisia nas pernas”, relata a vizinha Laura Cesco Vasconcelos. Os vizinhos da capela contam que Dona Florência, em virtude da idade avançada, foi levada pelo filho para viver no interior do Estado.De acordo com o historiador Edson Contar, que frequentava a região nos anos de 1950, a capela atraia muita gente. “Isso deve ter ocorrido entre 1935 e 1940. Quando eu passeava pela região era um tumulto porque estava fresco na memória das pessoas. É um fato que faz parte da história da Capital”, conta.A história de Santa CarminhaSegundo o escritor Américo Calheiros, que narrou o caso policial no livro “Memória de Jornal”, Carminha era uma menina comum, com aproximadamente 7 anos de idade quando foi morta.Com o perfil conservador da sociedade na época, o crime sexual causou comoção pública jamais vista em Campo Grande até então.A história atraiu fiéis de vários lugares, pois muitos creram que a santa operava diversos milagres. Atualmente, mesmo se passando tantos anos, devotos continuam pedindo e agradecendo, deixando flores, bonecas e doces na capela.A capelinha está localizada na Rua Joaquim Nabuco, entre as Ruas Dom Aquino e Marechal Rondom, próxima à antiga Estação Rodoviária de Campo Grande.