Publicado em 18/01/2015 às 02:00,

Paixão por Fusca cria amizades e reúne fãs em carreata na Capital

Redação, Campo Grande News
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(Foto: Divulgação)
Fuesqueata animou as ruas da Capital na manhã de domingo. Quando ele passa, desperta as mais variadas reações: há quem torce o nariz, faz piada e até dá risada. Mas também tem aqueles que elogiam, claro, dependendo do seu estado de conservação. O fato é que o Volkswagen Sedan, ou simplesmente Fusca, é um daqueles automóveis que dificilmente passam despercebidos.Ao longo de sua vitoriosa carreira no Brasil, onde chegou no início da década de 50, o carro, que bateu recordes de vendas nos anos 70, recebeu diversos apelidos. Besourão, joaninha, pé-de-boi, nomes que sempre remetiam a insetos devido ao seu formato. A moda dos apelidos também pegou nos países por onde ele desfilou sua simpatia.Sim, porque mesmo criticado, seu design peculiar sempre foi seu chamariz. Na Guatemala por exemplo, era conhecido como Cuca, uma abreviação de cucaracha (barata).E foi para celebrar essa carreira de fama e polêmicas, que pelo menos 100 integrantes da Confraria Apaixonados por Fusca e Derivados, criada em Campo Grande, realizou neste domingo uma “fusqueata” com 80 veículos antigos, em homenagem ao Dia Nacional do Fusca, festejado na próxima terça-feira (20).Criada em 2012 por um grupo de apaixonados pelo veículos, a Confraria tem o objetivo de divulgar a história de um dos carros mais populares do mundo e unir amigos com o propósito de manter acesa a paixão pelo Fusca. E para muitos do grupo, um amor que vem de gerações. É o caso da presidente da Confraria, a historiadora Célida Vanilda Vilalba. Dona de um Fusca 1976, praticamente 100% original, ela conta que o carro está na família desde os seus 18 anos. Hoje, com 28 anos, Célida diz que esse amor aumenta junto com a quilometragem, tanto que nem ousa colocar preço no seu Fusca. “Ele já faz parte de nós. Não tem valor, é sentimento”, destaca.E todo esse amor Célida garante que vai passar para os filhos. “Vou fazer lavagem cerebral, vão ter que gostar também”, brinca. Coordenando o grupo há um ano e meio, ela diz que os integrantes sempre organizam viagens pelo interior do estado para participar de eventos. Alguns vão mais longe, como o Fusca modelo 1976 da funcionária pública Nilsele Barzotto, que em 2014 passou até por Assunção, no Paraguai. Durante cinco dias, ele foi uma das estrelas do evento que os amantes paraguaios do modelo organizaram durante o último carnaval.Além do passeio internacional, o Fusquinha cor de vinho também conhece boa parte do interior de Mato Grosso do Sul. Coxim, Ivinhema, Bonito, e por aí vai. O vidro traseiro do carro é praticamente um passaporte, lotado de adesivos das cidades e eventos por onde passou. Tantas viagens já renderam ao carro 46 mil quilômetros. “E ele tem fôlego para mais 40 mil”, garante Nilsele.Outro modelo que chamou a atenção na “fusqueata”, não por suas aventuras, mas sim, pelos serviços prestados a segurança da Capital, foi um modelo de 1982, que até meados da década de 90 foi utilizado pela Polícia Militar para atender ocorrências. Com sua inconfundível sirene estridente, pintado de azul e branco, ele foi uma das sensações do evento. Segundo o policial militar Vinícius de Souza, que levou o carro na fusqueata, apenas as rodas, o estofamento e o volante não são originais. Ele conta que a viatura policial, que também era chamada de joaninha, é mantida pela própria corporação com o intuito de aproximar a PM da população. “Sempre o levamos para eventos como forma humanizar a corporação e participar de ações sociais”, conta Vinícius, sem dúvida, um dos mais apaixonados pelo carro.Dono de um Fusca modelo 1977 e de um Passat 1978, o policial militar conta que sua paixão vem da infância, influenciado pelo pai. “Cresci dentro de oficinas. Minha mulher também é apaixonada por carros antigos e meus filhos com certeza serão”, diz. Para preservar essa paixão, ele conta que pagou R$ 4 mil pelo Passat e já desembolsou R$ 12 mil para deixá-lo quase original. Os dois carros ele trouxe do Rio de Janeiro.Quando foi buscar o Fusca, que tem 85% das peças originais e já contabiliza 140 mil quilômetros rodados, demorou dois dias na estrada. “Vim bem devagar para não forçar o motor. Tenho mais cuidado com ele do que com o meu carro que uso no dia-dia-dia”, afirma.Mas, sem dúvida, a grande atração dessa 5ª edição da “fusqueata” foi um modelo 1986, montado em apenas uma semana, especialmente para o evento. A carcaça foi comprada pelo mecânico Cláudio José Prado Oliveira, que pagou apenas R$ 200 por ela e, ao lado de mais três amigos, montou o carro utilizando peças de vários modelos. A cor escolhida foi o preto, já imortalizado na voz do cantor Almir Rogério, na década de 80, que prestou uma homenagem ao carro com a canção “Fuscão Preto”.Como se não bastasse, os amigos fizeram uma versão conversível e colocaram um boneco com roupa militar no banco de trás para atrair a criançada. Cláudio revela que tem um Fusca conversível sempre foi seu sonho, e para realizá-lo chegou a fazer cursos de especialização em mecânica e contou com a experiência do restaurador Camilo Bonfim, que há 45 anos dedica-se a profissão. Ao lado de Cláudio, eles formaram o grupo Rota Zona Sul, formado por amantes de carros antigos, todos moradores de bairros próximos ao terminal Guaicurus, como o Recanto dos Perdizes. “Terminamos nossa invenção na madrugada de domingo, o design foi aparecendo a cada palpite”, conta o mecânico, que se orgulha do resultado final, um Fusca com rodas originais da década de 90 e volante com correntes, para dar um toque de irreverência.Ver a grandiosidade do evento deixa satisfeito o jornalista especializado na área de veículos, Paulo Cruz. Pioneiro nesse tipo de evento, ele lembra do primeiro encontro de fãs de Fusca que organizou, com alguns poucos patrocinadores, em 1997. O evento foi crescendo e ele chegou a organizar 13 edições na Base Aérea, já que também é militar. Na opinião de Paulo, o crescimento de grupos apaixonados por veículos antigos na Capital demonstra necessidade das pessoas em resgatar símbolos que trazem boas recordações. “Isso vem acontecendo na música, nos objetos vintage, tudo isso trás boas lembranças”, ressalta.EconomiaPara aqueles que ainda não se deixaram seduzir pelo eterno fusquinha e fazem piadas sobre manter um modelo antigo na garagem, os fãs campo-grandenses tem a resposta na ponta da língua: a economia na manutenção e no combustível ajudam a garantir a paixão. “Faço 13 quilômetros com 1 litro, sem falar que essa semana paguei R$ 8,00 pelo reparo do carburador”, conta Nilseli Barzotto.Com a manutenção barata, ela consegue manter a originalidade do seu veículo. “Sempre consigo entre os amigos peças com bons preços. Muita gente tem esse preconceito de que carro antigo dá problema, mas nós cuidamos para que ele sempre esteja impecável”, afirma. Ela pagou R$ 7 mil no seu modelo e não investiu nem R$ 500,00 para trocar o assoalho e cromar a roda, em forma de Cruz de Malta, acessório original dos anos 70.“A questão do preconceito está nos olhos de quem vê. Tudo depende de como você enxerga a vida”, filosofa o restaurador Camilo Bonfim. Para ele, a gama de amigos que faz por onde passa, não tem preço. “É a oportunidade de contar fatos históricos, inclusive do país, através de um carro”, diz. Do mesmo pensamento compartilha o policial Vinícius de Souza, que já recebeu uma oferta de R$ 15 mil pelo seu Fusca, mas nem cogita a venda.Segundo revista especializada, já houve um Fusca avaliado em R$ 120 mil, que conseguiu comprador. Para quem se surpreende com a loucura ou paixão de quem desembolsa esse valor, os fuscamaníacos respondem com uma frase, criada por Célida, e que resume tamanha devoção. “O Fusca não é um carro, é uma máquina de fazer amigos”, conclui.Serviço - Em homenagem ao Dia Nacional do Fusca, cinco modelos ficarão exposotos no shopping Pátio Central, na rua Cândido Mariano, centro de Campo Grande. O público poderá conferir os carros entre os dias 21 e 31 de janeiro.