Aos 16 anos, Camila Pitanga apareceu pela primeira vez na capa do ELA, encarnando Iemanjá nas areias de Grumari. Eram os anos 90, época em que a ninfeta despontou na TV (ela estreou na minissérie “Sex Appeal”, que também lançou Luana Piovani, em 1993), nas passarelas e nos jornais.Aliás, Camila foi a atriz brasileira que mais vezes apareceu na primeira página do nosso caderno — depois da Rainha do Mar, clicada em 1994, ela posou em 2005, encarnando Oxum. Foi uma diva, em 2007, e homenageou Carmen Miranda em 2009. Agora, a atriz é ela mesma na capa desta edição — um mulherão, de cabelos ondulados e batom vermelho.Muitas transformações aconteceram na vida de Camila nos 21 anos que separam a primeira capa desta que você tem em mãos. Mas ela não entrega o jogo facilmente. Na primeira capa, aquela dos16, a atriz dizia, por exemplo, nunca ter feito nenhuma loucura por ninguém.— Isso já mudou, mas não vou te dizer nunca qual a loucura que eu já fiz — diz, rindo, enquanto recorre à memória ao olhar de novo a sua imagem sensual, à beira-mar. — Nessa época, eu morava em Jacarepaguá. Como ensaiava uma peça no Humaitá, era muito menos cansativo ficar na casa da Bené (Benedita da Silva, sua madrasta), no Chapéu Mangueira. Eu era a menina da Zona Oeste que começava a encontrar a Zona Sul, o Hamilton Vaz Pereira, a Regina Casé, o Luiz Fernando Guimarães, o Gringo Cardia — relembra.Depois, no dia 1º de janeiro de 2005, ela voltou a interpretar uma divindade no ELA. Coberta de ouro e vestida de amarelo, posou como Oxum. Ainda não era mãe, morava na Gávea, e estava casadíssima com o diretor de arte Cláudio Amaral Peixoto, com quem ficou por 11 anos e teve a filha, Antônia.— Eu tinha 27 anos, estava estreando uma peça, “A maldição do Vale Negro”, com texto do Caio Fernando Abreu. A vida seguia perigosamente estabilizada, tinha acabado de me mudar para um apartamento na Gávea, trabalhava bastante. Foi um momento tranquilo da minha vida — conta, com a labradora Nêga, aos seus pés.Na época em que estourou como a prostituta Bebel, da novela “Paraíso tropical”, ao lado de Wagner Moura, Camila virou top model por um dia, especialmente para o ELA, encarnando uma diva. Na entrevista, contou que foi à ONG Da Vida, comprou livros e conversou com prostitutas.— Cada trabalho acaba demandando um caminho próprio. Com a Bebel, tive a oportunidade de conversar com a Gabriela Leite, da Daspu, que me apresentou colegas que faziam parte da associação. Porque há segmentos diferentes entre elas. Há as da praia, as da boate, as do dia...— conta a atriz, formada em Artes Cênicas pela Uni-Rio, acrescentando que capta tudo que se encaixa no escaninho de cada personagem. — Faço colagens, tenho cadernos dos personagens.Na mesma entrevista, disse sobre a sua maior virtude ou defeito: “Excesso de sinceridade. Às vezes, ela vem deslocada do momento, tenho que segurar um pouco as verdades”. Hoje, acredita que mudou.— Todas as coisas têm seu tempo. Acho que envelhecer faz bem para você sentir mais o outro. O fato de ser mãe também te faz sair da sua esfera e ter um olhar mais amplo para saber como alguém pode te ouvir. Porque a questão não é dizer, mas fazer sentido. Dizer verdades é fácil, mas ter delicadeza e sentir quando as palavras têm o seu lugar, isso só vem com a maturidade. Eu não me considero nem um pouco madura, tenho chão pela frente. Espero ainda viver muita coisa e não me prender a certezas.Camila passa a ideia de uma pessoa que leva mesmo a vida de uma forma suave. Se pudesse voltar no tempo, diz que não mudaria nada.A atriz, que faz terapia desde os 19 anos, nunca se intimidou com a fama. Circula pelo Rio com a desenvoltura de quem nasceu no Leblon, morou em Jacarepaguá, no Chapéu Mangueira e na Gávea, antes de se mudar, há dez anos, para uma confortável casa no Horto — com direito a painel de azulejos de Athos Bulcão numa enorme parede.— Circulo muito pela cidade. Adoro. Estou dirigindo muito pouco. Sei dirigir, mas tenho preguiça. Acho o trânsito violento, estou dando um tempo — diz ela, que foi fotografada por fãs dentro de um vagão do metrô no início deste mês. — Fui de táxi até Botafogo e, de lá, até o Centro de metrô. Gosto de estar sempre descobrindo lugares. No domingo passado, fui com a minha filha, Antônia, de 7 anos, e minhas sobrinhas ao Teatro Popular Oscar Niemeyer, em Niterói. Tem um calçadão enorme, elas brincaram e andaram de patinete.Como a mãe, Vera Manhães, sofria de transtornos psiquiátricos, Camila foi morar com o pai, o ator Antônio Pitanga, e o irmão, Rocco, três anos mais novo. Ela diz que adora ser cuidada, mas sente que tem uma tendência maior para cuidar:— Tive que me organizar muito cedo, mas não foi o trabalho que me deu isso. Foi o fato de eu ter sido a mulher da casa desde os 9 anos. Ter as coisas no seu devido lugar, cuidar do meu irmão, de mim mesma. Tudo isso foi uma necessidade, ainda que meu pai tenha sido maternal, presente e zeloso das coisas mais básicas.Aos 38 anos, diz que nunca passou por crises por causa da idade. Ela se aceita como é.— As crises vêm em função do que você vive, das dores, dos dilemas. Não têm datas certas para aparecer. Vivi muitas crises, mas nunca em função de uma idade — conta Camila, que, mesmo assim, é vaidosa e cuida da pele com rigor na clínica da dermatologista Denise Barcelos. — Além do laser, para conter o melasma, uso produtos manipulados. Quando vou fazer um trabalho na TV, estaciono na clínica da Denise e me cubro de cuidados — diz a atriz, que não é fiel a nenhum cabeleireiro.Sobre moda, diz que mudou um pouco de estilo.— Eu tinha essa coisa feminina e retrô, mas hoje em dia sou clean. Uso mais roupas lisas e calças. Adoro casaco!Depois de servir um cafezinho com bolo e de derrubar uma colher, ela confessa que é estabanada e esquecida. Do tipo que troca datas.— Jerry Lewis, essa sou eu. Já apareci para festas de aniversários em datas erradas três vezes. Sou daquelas de pegar o aniversariante de cuecas. No táxi, sempre esquecia o laptop. Tanto que a capa agora é verde, para eu não esquecer.Para a geminiana Camila Pitanga, luxo é ter tempo “pro zero, pro silêncio e pra fazer todas as coisas que desejo fazer”. Uma delas é namorar o ator Sérgio Siviero, com quem está há um ano, e que chegou quando terminava a entrevista.A outra meta, até o final do ano, é retomar as aulas de violão, quando a novela “Babilônia” terminar.— É importante dar um tempo quando um trabalho acaba. Quero viver a rotina da Antônia, voltar a ler, estar com meus amigos, participar de grupos de estudo.