A poucos metros da entrada principal da Vila dos Atletas uma repórter apenas de calcinha grava diariamente uma participação em um programa de TV. Pouco depois, ela começa a abordar e entrevistar atletas que saíram para passear por Toronto. A cena parece surreal, mas está acontecendo nos Jogos Pan-Americanos. Isso porque o Naked News, um famoso canal canadense, resolveu fazer a cobertura da competição e tem um programa com notícias, entrevistas, brincadeiras, resumo das provas e, até mesmo, um quadro atualizado de medalhas. O canal, no qual as apresentadoras e as repórteres fazem striptease ao lerem as notícias, foi criado em 1999 e é exibido pela internet (a assinatura mensal custa R$ 14) e pela TV a cabo no sistema pay per view. A produtora onde funciona o canal fica bem perto da Vila dos Atletas, em um edifício cinza que mais parece um galpão abandonado. É discreto e não chama muito a atenção. Bem diferente de quando as repórteres estão na rua atrás dos atletas para produzir o conteúdo que vai ser exibido pelo canal. Fazendo topless, elas entrevistam e brincam com esportistas de vários países. Inclusive com brasileiros, que já participaram do programa nos primeiros dias do Pan.Em grande parte do Canadá, como em Toronto, o topless não é considerado atentado ao pudor. Essa lei só existe graças à uma mulher chamada Gwen Jacob. Em 1991, ela foi detida por atentado ao pudor em Guelph, na Província de Ontário. A defesa de Gwen foi baseada na seguinte indagação: por que os homens podiam andar sem camisas nas ruas e as mulheres não? Nada no Código Criminal Canadense previa que o topless nas ruas era proibido. E, assim, ela venceu na Justiça. A lei, contudo, não é um direito constitucional. Por isso, há locais no Canadá onde as mulheres podem ser detidas por atentado ao pudor se estiverem com os seios descobertos nas ruas.Nenhuma das profissionais do canal é formada em jornalismo. Todas são modelos que passam por entrevistas e, se tiverem o estilo do canal, forem carismáticas, bonitas e tiverem boa dicção, entram. Atualmente, o canal tem dez modelos trabalhando diariamente. De acordo com o produtor Lucas Tyler, tudo começou em 1999 com um grupo de amigos.- A internet era uma coisa ainda nova, éramos jovens e, você sabe, às vezes você está assistindo notícias, você vê uma mulher apresentando e imagina ela pelada (risos). Foi como tudo começou e cresceu de repente. Nós transmitimos para o mundo todo, e nosso quartel-general é em Toronto. Nossa linha editorial é cobrir notícias que possam interessar a alguém na Austrália ou no Canadá, não somente esportes - disse.Tyler afirma que o Naked News tem um público leal que os acompanha desde o início. O site recebe, em média, 6 milhões de visitas mensais. Ele explica que as meninas estão mais para a área do entretenimento que do jornalismo, já que apresentam as notícias de uma forma descontraída. Se na rua elas trabalham de topless, no estúdio chegam a ficar totalmente nuas. Com os Jogos Pan-Americanos acontecendo em Toronto, eles resolveram criar um programa diário de cerca de oito minutos dedicado à competição. Do lado de fora da Vila, as repórteres abordam os atletas que passam por ali. Alguns ficam constrangidos ao serem abordados, no meio da rua, por uma mulher apenas de calcinha. Outros entram na brincadeira. Na terça-feira, o Naked News montou um estúdio ao ar livre, com direito à tapete vermelho e a Vila do Pan ao fundo, e entrevistaram o tenista hondurenho Alejandro Obando, que perdeu do brasileiro Orlandinho, o canadense Ryan Boland, do softbol, o argentino Juan Pablo Fernandez, do handebol, e o méxicano Juan Martinez-Elhore, do rúgbi. - As pessoas quando veem não acreditam, dizem: É maravilhoso isso! ou não acredito no que estou vendo. Essa é a reação que queremos que tenham. Somos um canal único que oferece um produto único. As garotas apresentam o tipo de notícias que você lê em qualquer site ou vê em qualquer canal... A diferença é que apresentamos da nossa maneira única (risos).Diante do sucesso do canal e a sua consolidação no Canadá, Lucas Tyler conta que já há correspondentes internacionais do Naked News na Austrália, em Miami e em Los Angeles, nos Estados Unidos. Mas elas são temporárias. O destino preferido para ter nova uma correspondente? O Brasil, claro! E, com os Jogos Olímpicos de 2016 se aproximando, Tyler já vê a possibilidade de ter uma profissional rodando pelo Rio de Janeiro.- Queremos muito ir para o Brasil. O Brasil tem tudo a ver com isso e seria fantástico. É um país que está na lista de onde ir antes de morrer de todo mundo. O Brasil seria muito melhor para ter um canal desses, tem tudo a ver, muito mais que Toronto, aqui faz frio por muitos meses no ano, não é a melhor condição para se ficar pelado.Uma das mais famosas entre as repórteres, Carli Bei, era modelo. Tinha uma página na internet e foi contactada por um dos produtores, que se interessou pelo perfil dela. A morena afirma que, em Toronto, ainda consegue circular pelas ruas no anonimato. Mas que quando vai aos Estados Unidos é abordada pelas pessoas, que elogiam o seu trabalho.- Quando eu era bem nova, vi esse canal na TV. Pensei que era legal. Chamou minha atenção muito mais que outras notícias. Nem ligava para as outras. Mas nunca pensei que trabalharia aqui (risos) - concluiu.