Mariana encarna o masculino e faz arte como Damian Black. A paixão pelas cores e o glamour das drag queens em Campo Grande fez Mariana, de 22 anos, encontrar um novo mundo. Quando encarou uma fase intensa na depressão, saiu do fundo do poço como drag king, fazendo performance, mas sem aquele cabelão ou os cílios postiços. Seguiu para o lado masculino e incorporou uma barba ao visual da noite. Mariana Sayuri já era fã do seriado americano RuPauls Drag Race, que mostra o carisma e talento de uma drag queen. Eu comecei assistir o reality e fiquei completamente encantada. Fora da televisão, queria mais, ver todo o mundo delas. Elas tem um estilo próprio e quando teve a primeira edição do Corrida das Drags aqui em Campo Grande, eu fui e foi aí que eu comecei ver com outro olhos, conta sobre evento realizado no Bar Valu. A primeira transformação ocorreu há cerca de três meses, quando surgiu o Damian Black. No rosto, maquiagem garante a produção. Apesar do conceito masculino, cor é o que não falta nos olhos e até no nariz.A barba é feita com pintura, as vezes ganha um glitter e quando pode, Marina cola pelos tirados de peruca, para dar um tom mais realista à produção. Até estar pronta e se olhar no espelho do Damian Black, são quase 3 horas, para um estilo bastante exótico.Mariana enfrenta a depressão desde o ano passado. Uma relação amorosa difícil foi o que a levou ao estado de tristeza profunda. Eu tinha um relacionamento bastante complicado e que vinha muito ruim, acabei terminando na época. Logo veio o diagnóstico de depressão, pânico e ansiedade, descreve falando pouco do que aconteceu.A saúde emocional veio aos poucos, entre as drags. Eu fui uma das primeiras dragking da cidade. Fui fazendo amizade e conhecendo a realidade delas. A primeira vez que fui na casa de uma fiquei assim, encantada. Elas são lindas, é mais do que se montar, é uma arte, detalha.A vida intensa, que vai além das horas sobre um salto, fez Mariana se aproximar ainda mais de uma realidade muita vezes sofrida. Ela define a relação como amor, mas ao mesmo tempo uma necessidade de defesa. Eu amo elas, acho todas maravilhosas. Comecei a me aproximar tanto que se me perguntar, eu sei dizer o nome de cada uma. A vida que elas levam não é só aquela alegria e sorriso. Antes disso, também tem uma pessoa que batalha, trabalha o dia todo, costura a própria roupa, aguenta muita coisa pra estar a noite mostrando a arte conta.Mariana é formada em Letras, mas segue um ritmo de estudos para aprender inglês e alcançar o sonho de fazer intercâmbio na Inglaterra. Nas horas vagas, se dedica a desenhar o rosto de cada uma das drags. Em traços soltos e sempre carregados de muita cor, ela desenha e depois dá de presente com todo amor.Consigo ver o estilo de cada uma. Isso enalteceu algo dentro de mim, comecei a desenhar de brincadeira, mas as outras começaram a pedir desenhos e me apoiaram, isso trouxe a vontade de trabalhar com arte, diz.O conhecimento trouxe ainda o desafio de ir contra o preconceito. “Levanto a bandeira mesmo. Sempre fui feminista e quando eu comecei a entrar nesse meio LGBT foi uma coisa muito forte, principalmente, pela transfobia, sabia que tinha que lutar porque isso atinge diretamente as pessoas que eu amo. Porque se a gente depender de Estado e da vontade das pessoas, nada vai mudar, acredita.Quanto à intolerância, no lugar de fingir que não percebe nada, é na presença que Mariana impõe respeito. Eu faço questão de estar ao lado delas.Ao contrário de pessoas que usam o discurso que não tem nada contra, mas sentem vergonha de estar ali. Por isso, eu defendo. Elas são incríveis e o que elas fazem é digno de admiração, declara.
Cheia de atitude, Mariana saiu da depressão quando conheceu o mundo drag queen
Redação, Campo Grande News
08/11/2016 às 02:00 •