Lava Jato O líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), afirmou que a delação do lobista Fernando Soares, o Baiano, é “falha” e que vai acionar a Justiça. “Se você está fazendo uma delação, você tem que ter exatidão de números, você tem que ter provas concretas”, afirmou em entrevista à TV Morena.Fernando Baiano, delator da Operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras), afirmou que o senador recebeu US$ 1 milhão ou US$ 1,5 milhão de propina pela compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.Delcídio negou que mantenha contato com o lobista. “Eu o conheci na década de 1990, depois, nunca mais o vi. Sequer conversei com ele ou o encontrei. Depois disso nunca mais tive contato”, disse.O senador ainda questiona o depoimento de Fernando Baiano. “No meu ponto de vista, um delator não pode fazer delação premiada dizendo que ele ‘ouviu dizer’. Ele tem que ter provas”, afirmou.Disse ainda que vai rebater as acusações no Senado e na Justiça. “Agora, eu estou preparando uma resposta dura. Vou à tribuna do Senado com tranquilidade de explicar ponto-a-ponto, e, evidentemente, vou tomar as medidas jurídicas necessárias”, disse.Sobre o aluguel de navios-sonda para a estatal, Delcídio alegou ter documentos que o inocentam. “Eu tenho documentos internos da investigação que está sendo feita e eu vou subir à tribuna pra explicar tudo isso detalhadamente e mostrar, principalmente, quem recebeu recursos dessa operação das sondas. Garanto que não fui eu”, explicou.Veja tambémLava Jato: delator acusa mais um parlamentar de ter recebido propinaDepoimentoSegundo o lobista, o senador recebeu propina pela compra de Pasadena. O negócio foi feito pela Petrobras em 2006 e rendeu um prejuízo de US$ 790 milhões aos cofres da estatal.Esta é a segunda vez que o nome de Delcídio aparece em depoimentos da Operação Lava Jato. Em março deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu arquivar uma investigação contra o senador.Na ocasião, a Procuradoria-Geral da República pedia que ele fosse investigado, após outro delator, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa ter dito que ouviu falar sobre o pagamento de propina a Delcídio, quando o senador ocupou o cargo de diretor de gás e energia da estatal, entre 2000 e 2001.O pedido foi arquivado porque o STF considerou que faltavam evidências concretas do pagamento de propina a Delcídio.A diferença agora é que Baiano afirma ter feito os pagamentos ao senador. Na época em que os pagamentos teriam sido efetuados, ele estava em campanha ao governo de Mato Grosso do Sul. André Puccinelli (PMDB) venceu em primeiro turno e Delcídio se manteve como senador, até ser reeleito. Segundo Baiano, o dinheiro foi usado para ajudar na campanha ao governo sul-mato-grossense.O nome de Delcídio do Amaral também foi citado em outro contrato da Petrobras, que trata do aluguel de navios-sonda para a estatal. Segundo Baiano, houve um acordo entre Delcídio, o atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e o ex-ministro Silas Rondeau, também filiado ao PMDB.Baiano afirmou na delação que o acerto envolvia um pagamento inicial de US$ 4 milhões para os envolvidos. No entanto, após o encerramento do contrato, o valor final da propina ficou em US$ 6 milhões. O valor, no entanto, teria sido dividido pelo lobista Jorge Luz.Delcídio respondeu em nota que considera absurda a menção de Baiano na delação. “Além de absurdo, é muito estranho que meu nome tenha sido novamente citado nessa investigação, colocado numa época em que eu era considerado ‘persona non grata’ por todos que estavam sendo investigados pela CPMI dos Correios, cuja presidência exerci exatamente nesse período (2005/2006)”, afirmou.Ele também citou o arquivamento da primeira investigação contra ele, baseada no depoimento de Paulo Roberto Costa. “Lembro que a própria Procuradoria Geral da República solicitou ao STF (e foi atendida) o arquivamento de procedimentos onde meu nome foi citado no âmbito dessas investigações.”Outros citadosRenan Calheiros também negou as acusações de Fernando Baiano. O senador afirmou em nota que não conhece o lobista e “que não delegou, autorizou a ninguém falar no nome dele em qualquer circunstância”.Jader Barbalho também afirmou que não conhece Fernando Soares e disse que não era senador na época da denúncia.Os advogados de Jorge Luz e o ex-ministro Silas Rondeau não foram encontrados para comentar as denúncias.Lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano Quem é BaianoLigado ao PMDB, Fernando Baiano é investigado no Supremo no principal inquérito em andamento no tribunal, o que apura se existiu uma organização criminosa com o intuito de fraudar contratos e desviar dinheiro para pagamento de propina a políticos.A colaboração dele foi validada pelo Supremo porque Baiano citou o envolvimento de parlamentares com foro privilegiado, que só podem ser investigados com supervisão do tribunal. Com colaboração com as investigações, ele poderá ter as penas reduzidas. Segundo depoimentos de delatores da Lava Jato, Fernando Baiano era interlocutor do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e atuou com ele em desvios de contratos de navios-sonda da Petrobras.Baiano já foi condenado na primeira instância da Justiça Federal em Curitiba a 16 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sob a acusação de receber US$ 40 milhões de propina nos anos de 2006 e 2007 para intermediar a contratação de navios-sonda para a perfuração de águas profundas na África e no México.