Publicado em 12/11/2016 às 02:00,

Depois de cumprir pena por assassinato, ele carrega cruz para provar inocência

Redação,
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(Foto: Divulgação)
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(Foto: Divulgação)
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(Foto: Divulgação)
O dia 18 de junho de 1993 marcou para sempre a vida de Paulo. A cena de um homicídio se repete nas lembranças, causando a dor por ter pagado por um crime que ele jura nunca ter cometido. Hoje, aos 56 anos, faz uma peregrinação pelo País na esperança de provar a sua inocência.Paulo Cícero de Lima chegou a Campo Grande na semana passada. A fotografia do homem cansado, carregando uma enorme cruz, já estava bombando nas redes sociais. A imagem vale uma série de interpretações, deixando as pessoas curiosas pela cena inusitada. O Lado B foi ao encontro de Paulo e, por sorte, o encontrou minutos antes dele partir para Cuiabá levanto tudo o que tem. Bronzeado pelas horas caminhando ao sol, as roupas surradas, porém limpas. e reclamando de dores nos pés, Paulo conta como vem lidando com a solidão e com o que jura ser a dor da injustiça.  Mostrando a identidade, Paulo conta que é de Angelim, no Pernambuco. Mas a história difícil começou no interior de São Paulo, quando mudou-se com os pais para tentar uma vida melhor. Meu pais foram atrás de um oportunidade de trabalho, como todo mundo faz, explica.Indo direto ao assunto da cruz, diz que a história é longa. Fui preso injustamente, eu estava passando na frente de onde aconteceu o crime e a polícia me prendeu. Fiquei 16 anos e 70 dias na cadeia, diz se atentando muito bem as datas, mesmo quando as informações parecem confusas.O homem, aparentemente lúcido, conta que a peregrinação teve início depois de um sonho que ele acredita ter sido um sinal divino. Quando eu sai da cadeia, já sabia que tinha uma grande jornada. Tive um sonho em que eu andava muito, carregando uma cruz em subida. Lá em cima eu jogava uma corda e descia até uma porta. Então eu acredito nesse sonho e que essa porta é chance de provar que eu sou inocente, comenta.Paulo diz que foi condenado a 24 anos de prisão pela morte de Ana Célia Gregório, em Atibaia, no interior de São Paulo. Sem detalhar muito a história, conta que nunca conheceu a mulher. Eu saí de casa para procurar emprego. Estava na rua e tinha um casal na cidade que criou um menina desde pequena. Ela cresceu e ficou muito bonita. O homem que a criou teve rolo com ela, mas depois ela conheceu outro rapaz e esse homem que a criou foi lá e matou ela, garante.Da investigação até a sentença, a justiça tratou o caso como roubo seguido de morte. Mas Paulo nunca teve qualquer provas contra o homem que acredita ser o verdadeiro criminoso, nem a favor dele. Admite que os erros no passado contribuiu para uma pena severa.Furtei sim, mas foi só isso e nunca cheguei a ficar preso, porque era coisa pequena. Forjaram provas para me colocarem na prisão. Eu só estava passando na frente e fui preso. Perdi uma vida dentro da cadeia. Achei que ia sair nos primeiros dias, mas fui contando meses e todos esses anos, lembra.A liberdade veio em 2009 com a liberação de um juiz que ele acredita ser um amigo. Ainda não terminou minha pena, mas o juiz ficou meu amigo. Eu saí da cadeia e resolvi entrar na história para entender o que tinha acontecido.Paulo nunca frequentou a escola, trabalhou como pedreiro e auxiliar em parque de diversões. Na cadeia, veio a oportunidade para se alfabetizar. Eu não entendia nada, era bem ignorante mesmo. Eu passava o dia lendo e estudando para aprender a escrever direito. Nunca houve advogado tentando me tirar dali, diz.No entanto, mesmo com a liberdade, Paulo é um homem que se sente preso à culpa e tudo que deseja é se livrar dos pesadelos. Toda noite que eu durmo eu lembro das coisas e só quero encontrar essa porta para minha inocência. Quero que o meu caso seja novamente investigado e depois disso eu vou viver tranquilamente. Pai de quatro filhos, mas sem contato nenhum com a família, o único propósito é seguir viajando. Ele já caminhou de São Paulo até Brasília e agora o novo trajeto incluiu Mato Grosso do Sul. Em Campo Grande, ele ficou apenas uma semana. Aqui as pessoas são mais fechadas. Agora vou para Cuiabá, disseram que lá as pessoas são mais simpáticas, comenta. (Campo Grande News)