Após quatro anos de luta, a dona de casa Luciene Anselmo de Faria finalmente fará uma cirurgia para reconstruir a face e, com isso, tentar mudar totalmente de vida. A jovem de Peruíbe, no litoral de São Paulo, é alvo de preconceito desde a infância por conta da fisionomia, já que tem grandes problemas na mandíbula e nasceu sem uma das orelhas.Cirurgia deve melhorar a qualidade de vida de Luciene A história de Luciene começou a ser contada pela reportagem em 2013, quando ela procurou ajuda na Faculdade de Ortodontia da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) depois de estar cansada de sofrer preconceito e de passar por situações humilhantes desde a infância. Além da parte estética, o problema na mandíbula deixa o seu rosto torto, o que a prejudica no dia a dia já que ela respira apenas pela boca e, às vezes, sente falta de ar.O professor e diretor-científico da Associação dos Dentistas de Santos, Wagner Nascimento, levou o caso de Luciene para os dentistas Almir Lima Jr., Marcelo Quintela e Alessandro Silva, especialista em cirurgia bucomaxilar. Eles descobriram que Luciene tem uma síndrome rara que deu origem a uma microssomia hemifacial (malformação e deficiência no crescimento da mandíbula). O diagnóstico foi feito durante exame clínico realizado por dentistas especializados e confirmado pela disciplina de Genética da Faculdade de Medicina da Unimes.Como ela não tinha condições financeiras de pagar por todos os procedimentos cirúrgicos, os dentistas, que também coordenam a “Corrente Profissional do Bem”, apostaram em um grupo de profissionais de saúde, empresas e laboratórios que oferecem atendimento gratuito para pessoas que não possuem condição financeira para custear os tratamentos. Depois de conseguirem todo o tratamento de forma gratuita, a cirurgia estava prevista para acontecer em 2014, mas teve que ser adiada.Segundo Silva, os dentistas resolveram mudar a estratégia. A princípio, seriam feitas duas cirurgias, mas ao analisar melhor o caso de Luciene, eles chegaram a conclusão que seria um procedimento muito instável. Além disso, Luciene ficou sem o plano de saúde e também teve problemas pessoais que a impediram de dar seguimento ao tratamento da forma correta.No ano passado, os dentistas entenderam que ela estaria pronta para realizar apenas uma cirurgia, bem complexa e trabalhosa, mas que iria resolver os problemas de forma mais segura. A jovem está usando, há dois anos, o aparelho ortodôntico que a prepara para a cirurgia. O aparelho é moderno e sofisticado, pago pelo próprio curso de Especialização no qual ela é atendida.A cirurgia foi, finalmente, marcada para a próxima sexta-feira (7), no Hospital Vitória. Os brasileiros trouxeram o dentista americano David Poor, professor da Universidade do Pacífico, que é conhecido internacionalmente pela experiência nesses casos de cirurgia buco-maxilo-facial. Ele irá revezar-se com a equipe brasileira no centro cirúrgico, já que o procedimento deve durar cerca de seis horas. A cirurgia de Luciene será filmada e transmitida, às 8h30, durante a II Jornada Ortocirúrgica da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes).Equipe especializada trabalha para que cirurgia seja feita Durante a cirurgia uma prótese de mandíbula vai reconstruir as partes ósseas que a paciente não tem, suas articulações serão refeitas, e o maxilar superior também será reposicionado para que os dentes se encaixem perfeitamente em novas posições.“Vamos substituir a articulação que ela não têm por uma de titânio. A gente faz toda a correção de toda a deformidade que ela tem. É trabalhoso. O dentista americano tem bastante experiência. É uma cirurgia a quatro mãos, dois dentistas e dois assistentes”, comenta Silva.Após o procedimento, ela continuará recebendo um acompanhamento dos dentistas e terá orientação médica e também de nutricionistas. Após três meses, Luciene deve voltar a ter uma vida normal. Porém, os dentistas envolvidos esperam mais que isso, que ela possa viver de uma forma muito melhor.“O objetivo é alcançar a plenitude, que é a simetria facial, de função e estética facial. A função que ela vai ter é mastigatória e respiratória, ter uma boa mordida, adequada e uma melhor digestão dos alimentos. E, também a estética. O que eu vou fazer é só mostrar o que está escondido nela”, falou.
Jovem que sofria bullying por ter rosto deformado fará cirurgia em SP após 4 anos de espera
Redação, G1
06/04/2017 às 03:00 •