Com alerta de poder causar mais danos e prejuízos do que realmente auxiliar no tratamento da Covid-19, após muita polêmica o Ministério da Saúde liberou ontem o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina (nome genérico do produto) para pessoas internadas em estado grave com a doença causada pelo novo coronavírus. A medida, porém, foi comunicada com diversos alertas do ministro Luiz Henrique Mandetta. “Vamos deixar esse remédio ao alcance [de quem está internado em estado grave]. O Brasil tem vasta experiência no uso deste remédio por conta da incidência de malária. Mas ele pode causar arritmia cardíaca, deixar o coração fora do ritmo, e aumentar o fígado”, alertou.O medicamento é usado para tratar doenças como malária, lúpus, artrite e artrite reumatoide e ganhou ainda mais visibilidade após a declaração em rede nacional, na noite de terça-feira, do presidente Jair Bolsonaro. Especialistas ouvidos pelo Correio do Estado novamente alertaram a respeito do uso, que ainda não apresenta comprovação científica de que funciona para tratar a Covid-19, e falaram também sobre o perigo da automedicação. OPINIÃOA reportagem esteve em quatro farmácias de Campo Grande e não encontrou a medicação. Em três delas, a informação é a de que não há previsão de normalizar o abastecimento. “Não é para usar, nem se automedicar. Os efeitos adversos são piores. Pode fazer muito mais mal do que bem. Se houver necessidade de uso, o médico vai prescrever somente em casos graves e específicos de pacientes graves internados. O uso não é indicado”, afirmou a médica infectologista Priscila Alexandrino.A farmacêutica clínica Daniely Proença confirma que os medicamentos não devem ser usados para tratar ou prevenir Covid-19. “Precisam ser feitos testes que comprovem a eficácia e a dose utilizada. Para quem tem lúpus e artrite, por exemplo, a dose foi padronizada em 400 miligramas. É complexo chegar a uma dose. O médico tem de avaliar a doença e a condição do paciente. Precisa de tempo para esses testes serem feitos”.ALERTAA Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já havia se posicionado sobre a questão quando os primeiros casos de Covid-19 foram registrados no Brasil. “Apesar de promissores, não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento da Covid-19. Assim, não há recomendação da Anvisa, no momento, para o uso em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação. Ressaltamos que a automedicação pode representar um grave risco à sua saúde”, afirmou em nota.“Fizeram testes e descobriram que a azitromicina e a hidroxicloroquina podem ajudar a tratar a doença. Mas há reações, depende de cada indivíduo. Tudo tem de ser considerado, pois interfere no tratamento e pode causar mais danos do que o próprio vírus. É importante não se automedicar nunca”, alerta a farmacêutica.No dia 20, sexta-feira, na tentativa de frear a aquisição indiscriminada – que deixaria pacientes que realmente precisam sem os medicamentos–, a Agência decidiu enquadrar a cloroquina e a hidroxicloroquina como medicamentos de controle especial, alegando que não há comprovação sobre o benefício da substância no tratamento do novo coronavírus.Ao tornar a cloroquina um medicamento de controle especial, a Anvisa também justifica que a medicação tem muitos efeitos colaterais. “Ambos são usados para tratar doenças como malária e lúpus. E os eventos adversos em outros casos podem ocorrer. Pode matar. As pessoas que usam sem prescrição correm risco. É loucura”, afirma a médica Priscila Alexandrino.O remédio não imuniza quem faz uso dele. Ou seja, a pessoa continua suscetível ao vírus. “O medicamento não é vacina, não previne e pode causar um mal maior”, revela Daniely.