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Temos a vida inteira para aperfeiçoar o Acordo Ortográfico, diz Juca Ferreira

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(Foto: Divulgação)
O ministro Juca Ferreira concedeu um entrevista ao jornal O Globo sobre  acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa. Confira abaixo a íntegra da entrevista.Temos a vida inteira para aperfeiçoar o Acordo Ortográfico, diz Juca FerreiraDepois de admitir que houve falhas na implantação da reforma, ministro da Cultura propõe criação de Instituto Machado de Assis para debater língua portuguesa.No fim de 2012, a presidente Dilma Rousseff prorrogou por três anos o prazo para a entrada em vigor, em caráter definitivo, do novo Acordo Ortográfico da língua portuguesa, alinhando o prazo com o calendário português. Pelo decreto, portanto, as novas regras são obrigatórias tanto no Brasil quanto em Portugal a partir de janeiro de 2016. Criado em 1975, assinado em 1990 e implementado em 2009, o novo acordo divide opiniões desde sempre: entre os críticos, sobressai o argumento de que não houve discussão suficiente antes da normatização; segundo os defensores, a padronização é fundamental, principalmente para garantir uma maior representação internacional do idioma.Há duas semanas, durante visita oficial a Portugal, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, declarou, sobre o Acordo: Talvez tenhamos errado. Foi a primeira vez que uma autoridade brasileira reconheceu falhas na maneira como a reforma foi imposta. No mesmo evento, que lançava o Festival Internacional de Literatura de Óbidos, nos moldes da Flip, a ser realizado em outubro, o ministro ainda anunciou um grande encontro sobre a língua portuguesa onde os protagonistas serão os criadores, e não os legisladores.Ao GLOBO, Juca esclarece que é favorável ao Acordo, sim, e antecipa a intenção de criar o Instituto Machado de Assis, entidade que ficaria responsável por fomentar a língua portuguesa no Brasil e também por estimular debates para aperfeiçoar os termos do Acordo.O que o senhor quis dizer em Portugal com talvez tenhamos errado? Precisamos rever o Acordo?Eu não disse que precisamos rever o Acordo, pelo contrário, sou totalmente favorável a ele. Mas, como Portugal até hoje não assimilou as mudanças, o que eu disse foi: talvez tenhamos errado na condução do processo. O Acordo é fundamental. O português é uma das línguas mais faladas no mundo, mais do que italiano ou alemão, uma língua que se expressa em todos os continentes. Se juntarmos todas as economias dos países que falam português, temos a quinta maior economia do mundo. O Acordo procura suprir uma deficiência que é a falta de escrita comum. Se não houver Acordo, toda essa diversidade e complexidade da língua volta-se contra a própria língua. O Acordo possibilita manter a escrita uniformizada.Onde houve o erro, então?Talvez tenhamos errado no processo de normatização, que teve um caráter tecnicista e não envolveu criadores de todos os países. Nos países africanos, pro exemplo, o português interage com pelo menos outros 50 idiomas, e isso não pode ser ignorado. É preciso considerar que essa complexidade do idioma pode nos afastar uns dos outros. Reconheci que houve condução tecnicista, foi o que eu disse.Como o erro pode ser corrigido?Temos que criar uma estratégia de afirmação da língua portuguesa, e por isso sou favorável ao Brasil criar o Instituto Machado de Assis, assim como há o Instituto Goethe, o Instituto Camões, o Instituto Cervantes. Uma entidade que tenha como uma de suas missões fomentar esse debate sobre a língua.Dá tempo de criá-lo no seu mandato?Um instituto desse porte não seria de responsabilidade exclusiva doMinistério da Cultura (MinC), mas do Ministério das Relações Exteriores, com a participação do Mnistério da Educação e do MinC.Mas, se houve erro na condução, e se o senhor admite que é preciso debater ainda mais as mudanças, considera a possibilidade de adiar a obrigatoriedade do Acordo?De jeito nenhum, pelo contrário. O Acordo veio tarde. É preciso ter uma estratégia de afirmação da nossa língua, de apropriação de toda a nossa dimensão cultural. Fazer com que os bens culturais circulem entre esses países, e isso não funciona por uma normatização de caráter tecnicista. Angola produz uma literatura de altíssimo nível, esse produto tem que circular mais. A língua é viva, e temos a vida inteira para aperfeiçoar o Acordo Ortográfico.De que forma?É fundamental convocar os criadores para debater a língua. Não estou propondo um encontro apenas, mas 200, 300. Assim como fazem os que falam inglês, os que falam francês, os que falam espanhol. Precisamos criar um sentimento de pertencimento a um mesmo território linguístico. A normatização da língua tem que estar inserida nessa estratégia. E não partir para essa bobagem que é a discussão o português é nosso. Estamos numa nova era de cooperação entre países. Um exemplo: por que o português não é uma língua de trabalho na ONU? Porque não tem uma escrita comum. O Acordo é fundamental, nos encaminha para o futuro. Mas, por erros de condução, ele foi demonizado. Teria de ter sido feito a partir de debates com representantes de todas as pessoas que manejam a língua no seu dia a dia, que chamo de criadores: os poetas, dramaturgos, tradutores, cronistas, filólogos, críticos literários, compositores, a mídia-livrista. Também precisamos pensar no uso que a língua tem na internet. Assim, teríamos feito um processo sólido de normatização, mais enriquecido, sem perder essa complexidade de que falei antes.