Publicado em 28/07/2016 às 03:00,

Moradora de Ivinhema vai à Capital conhecer família de doador de coração 

Redação, Campo Grande News
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(Foto: Divulgação)
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(Foto: Divulgação)
O sentimento de Cleonice era gratidão à família do doador. Um pedacinho de Ely vive em Ivinhema. O adolescente que morreu de repente, aos 16 anos, depois que o aneurisma se rompeu, havia comentado com amigos a vontade que tinha de ser doador. Foi assim que o coração chegou à Cleonice, que aguardava há três meses na fila de espera do transplante, após uma década de tratamentos. Nesta quarta-feira, o coração bateu forte, quando ela pode agradecer à família do doador, onde tudo aconteceu: na Santa Casa.O sentimento de Cleonice era gratidão e por três meses ela batalhou até que este dia chegasse. Procurou a Santa Casa e a imprensa, mas foi pelo Facebook que a resposta apareceu. Eu adicionei ela e perguntei: você que tem o coração do meu irmão?, repete a auxiliar de cozinha, Nelly Kelly Bandeira, de 24 anos, a irmã de Ely. À época da doação, ela tentou localizar quem fez continuar bater o coração do irmão e foi graças a uma amiga que cuidou de Cleonice, que ela conseguiu. Quando entramos em contato no Facebook, foi um dia muito tenso, só de choro. Eu chorava de lá e ela de cá, tenta dizer Nelly.Cleonice com a avó que ganhou. Dona Bertulina é a avó de Ely, o adolescente doador. Ely Rafael Bandeira de Souza tinha só 16 anos, a vida inteira pela frente e a vontade de ser promotor de Justiça. Era mirim no Fórum da Capital e já tinha até ganhado livros jurídicos. As páginas, segundo a família, não chegaram nem a ser folheadas. Faltou-lhe tempo.Ele tinha muitas dores de cabeça, achavam que era sinusite. Ele dormiu comigo, acordou no sábado de manhã, foi tomar café da manhã assistindo volei e de repente, aconteceu..., narra a irmã.A família chamou a ambulância e foi dentro da viatura, ao lado de Nelly, que o adolescente teve a primeira parada. A gente descobriu por uma amiga da escola que ele tinha vontade de doar, ele sempre foi uma pessoa muito humana, tenho certeza que era a vontade dele, conta Nelly.Quando os médicos vieram com a papelada da autorização, a irmã relata que a família chegou a ficar em dúvida, se negou primeiro, para depois aceitar. Ely morreu no dia 19 de março e horas depois, seu coração batia em Cleonice.Aí esperamos, foi uma espera muito difícil. Depois, eu só queria conhecer a pessoa, diz.Ainda no carro, uma reconheceu à outra na porta da Santa Casa. Não foi nem pelas fotos compartilhadas nas redes sociais, o coração de Nelly quem reconheceu as batidas de Cleonice. Aí foi só choro. A primeira coisa que eu quis foi sentir o coração dele, desaba Nelly. Com palavras, ela tenta descrever o sentimento. Um misto entre dor e alívio, de saber onde está o coração do irmão. É um pedaço meu, querendo ou não, é um pedaço meu e a gente era muito grudado, justifica. Como se precisasse. Menino era mirim no Fórum e tinha o sonho de ser promotor de Justiça. Dona Cleonice não cabia em si. A transplantada ganhou rosto para a família de Ely. Entre lágrimas e muita alegria, ela dizia que agora o coração batia como nunca. O meu já tinha que apanhar para poder funcionar. Agora quando vou dormir, eu viro assim de lado e sinto bem forte, descreve Cleonice Maria Xavier Ribeiro Saraiva, de 50 anos.Moradora de Ivinhema, ela veio a Campo Grande para fazer o que mais queria desde a cirurgia. O que eu fiz hoje foi poder agradecer pelo que eles fizeram por mim, de me dar esse coração para salvar a minha vida. Foi triste para eles, mas para mim, eles agora são minha família. É um pedaço deles que eu carrego dentro de mim e isso eu nunca vou esquecer enquanto eu tiver vida. Na brincadeira, o médico disse à ela que de coração novo, Cleonice vive até os 100 anos. Se depender da vontade e da gratidão da paciente, ela até passa disso. O encontro foi entre a irmã, o pai, a tia de criação e a avó. A mãe de Ely não conseguiu. Tudo ainda é recente, foi difícil, mas ela torce muito..., explica Nelly. Dona Bertulina Pereira de Souza, de 83 anos, via Cleonice como uma nova neta. É um alívio encontrar com ela, ver que o coraçãozinho do meu netinho está aqui, apontava o peito da paciente. A irmã, Nelly, quem procurou a transplantada no Facebook. Foi a primeira vez que a equipe que realizou o transplante acompanhou um desfecho tão belo. Ana Paula, a enfermeira responsável pela captação do órgão e Cláudio, o médico transplantador, foram testemunha do abraço. A gente não imagina isso, até porque mesmo se a família perguntar, a gente não pode informar quem está recebendo, a gente não faz esse vínculo, mas quando acontece, ficamos felizes, porque mesmo na dor, eles puderam proporcionar uma alegria, resume a coordenadora da Comissão Intrahospitalar de Doação de órgãos e Tecidos para Transplante da Santa Casa, Ana Paula Silva das Neves. Geralmente família de doadores e o transplantado permanecem anônimos um ao outro. E como Cleonice foi exceção à regra, este foi o primeiro encontro que o médico pode presenciar. É até uma surpresa boa, fico feliz de ver elas estarem bem e para a Cleonice, vai fazer muito bem. Ela estava angustiada, acho que era algo que faltava à ela, descreve o cirurgião cardiovascular, Cláudio Albernaz César. Na idade de Ely, quem é que iria imaginar que as dores de cabeça eram aneurisma? É a isso que o pai se apega para não culpar ninguém pela partida do filho. Nem os médicos acreditavam, um paciente de 16 anos com aneurisma? Quando ele sangrou em casa, pelo nariz, ali eu acho que ele já tinha ido à óbito, nos meus braços, desabafa seu Jovino José de Souza. O pedreiro de 43 anos nem imagina que seria possível localizar quem recebeu o coração do filho. Eu fico orgulhoso e onde ele está, ele também deve estar feliz por ajudar alguém, porque ele era muito assim.As três olhando o álbum de fotografias de Ely.