Mato Grosso do Sul é o Velho Oeste brasileiro. Normalmente é aqui, na nossa fronteira seca, que as produções cinematográficas do país recorrem quando precisam de um cenário que relembre de imediato as questões ligadas à pistolagem, ao tráfico de drogas ou à violência contra indígenas.Acompanhando as gravações do filme A Curva do Rio Sujo é possível notar a preferência por pontos que repassem essa sensação de terra sem lei da fronteira. Baseado em um livro escrito por Joca Reiners Terron, a produção conta a história de uma disputa entre gangues de motoqueiros, que culmina na morte de um indígena.Nas ruas de Bela Vista, a opinião da população é dividida. Alguns acreditam que a recorrência é preconceito, outros que reflete o cotidiano. Eu acho muito ruim, um pouco preconceituoso, existe um lado bom na fronteira, acho que a pistolagem ficou um pouco para trás, afirma o repositor de mercadoria, Gilson Souza Silveira, 49 anos.Já a colega de trabalho de Gilson, a atendente Jane Adélia Britez, de 26 anos, acha que no fim das contas o filme retrata uma verdade. Eu nasci aqui e hoje o que mais tem é roubo de moto, furto de residências. Talvez pistolagem e confronto indígena nem tanto, vejo muito isso em Dourados, acredita.Vale lembrar que essa não é a primeira vez que filmes do gênero são gravados na nossa fronteira. Cabeça à Prêmio, do diretor Marco Ricca, Fronteira, do sul-mato-grossense David Cardoso, Os Matadores, de Beto Brant e por aí vai...Esses filmes precisam de locações que mostrem as características da fronteira e Mato Grosso do Sul tem isso muito forte, além da questão indígena, que aqui temos a segunda maior população indígena do Brasil, aponta o presidente do Fórum de Cultura de Campo Grande, Airton Raes.Para ele, o poder de atração que a fronteira exerce sobre os espectadores é um fenômeno mundial. Hollywood sempre explorou muito a fronteira do México e dos Estados Unidos, um exemplo é a Marca da Maldade. Essa relação é muito parecida com a brasileira, não tem como negar isso, acredita.Nessa questão do cinema monotemático em Mato Grosso do Sul, Airton ainda ressalta que é importante citar as produções sobre Meio Ambiente, entre elas uma da BBC, o filme de terror Condado Marcado, rodado em Paranaíba e um documentário sobre um casal que trocava cartas de amor, Espero Que Esta te Encontre, de Natara Ney. Falta uma organização das film commissions para valorizar o potencial de locações que Mato Grosso do Sul tem e para atrair as produções de fora. Se isso não é levado, as pessoas vão procurar gravar aquilo que elas enxergam, nesse caso, da fronteira, das questões à margem da sociedade, explica.Bela Vista é, como muitos municípios de Mato Grosso do Sul, um lugar que guarda a história por meio das ruas e prédios, mas que viu seus redutos serem destruídos pela ação do tempo e o descaso dos governantes.Para o turismólogo Diego Maciel, 32 anos, morador de Bela Vista, a época da pistolagem ficou para trás. Às vezes acontecem alguns assassinatos, alguns assaltos, mas não é uma cidade perigosa e sim muito bonita. Quando tem desfile, os indígenas participam, mesmo apesar da distância, é cerca de 40 minutos de viagem até a aldeia, mas desde a minha adolescência eu não ouço falar mais de pistolagem, acredita.
Velho Oeste do Brasil, MS só é lembrado em filmes de fronteira e pistolagem
Redação, Fatima News
29/06/2015 às 03:00 •