O Ministério Público da Bahia investiga denúncias de abuso sexual feitas por 14 mulheres e um psicólogo, contra um líder espiritual e ex-maçom. Jair Tércio Cunha Costa, de 63 anos, desenvolveu uma doutrina pedagógica que é estudada em retiros espirituais promovidos por ele mesmo, semanalmente.As mulheres procuraram o projeto social Justiceiras, de apoio a vítimas de violência doméstica, e a Ouvidoria das Mulheres, órgão do Conselho Nacional do Ministério Público. Elas participavam da seita realizada por Jair Tércio.Segundo o portal G1 da Bahia, uma das vítimas, a pedagoga Tatiana de Amorim Badaró, procurou amparo emocional na doutrina após ficar grávida. Ela frequentava as reuniões junto ao namorado há 12 anos, entre 2002 e 2015, e foi a primeira a denunciar. “Ele se aproveitou de um momento de extrema fragilidade. A partir daí eu perdi minha vida”, disse a pedagoga.A mulher também conta que Jair fazia constantes ameaças dizendo que ela sofreria retaliações espirituais. “Ele dizia que ‘a espiritualidade vai te cobrar, porque você teve a chance de viver perto de um iluminado e não aceitou’”, detalha.Tatiana afirma que Jair não usava preservativos no momento dos abusos sexuais e que, segundo ele, “não era nada material”. Após as violências, ela se afastou dos familiares e amigos. Ele ainda afirmava que ela não deveria confiar nas pessoas, incluindo as da seita.A promotora de Justiça Gabriella Manssur explica que a maior dificuldade em casos de abusos sexuais é legitimar o depoimento da vítima, e que as situações acontecem por um longo período, fazendo com que as mulheres entendam que aquilo faz parte de um ritual. “Se conseguimos reunir vários depoimentos, há provas de que esses fatos ocorreram. São vítimas mulheres, muitas meninas ainda”.VítimasMais três mulheres relataram episódios de abusos realizados por Jair. Uma delas afirma ter sofrido tentativa de estupro e que o líder espiritual se aproveitou da relação de proximidade criada com ela. “Muitas vezes eu não ouvia meu pai e ouvia ele. Ele sabia do amor que eu tinha por ele como um pai”, relata.A segunda vítima, que também não quis ter a identidade revelada, não conseguiu se defender. “Ele me tocou, tocou nos meus seios, me masturbou e me mandou virar. Aquilo foi me deixando estática e ele foi fazendo, foi me molestando, mexendo em mim”, explica.As investigações também identificaram um boletim de ocorrência registrado na capital, Salvador, em que um telefone foi analisado, com a voz de Jair. Ele conversava com uma menor de idade, quando a garota questionou se ele tinha tirado a virgindade dela. Em resposta, Jair afirma “comigo não é relação, não. Comigo é carinho, é amor”.Ao afirmar que contaria para a mãe e marcaria consulta com ginecologista, ele pede para a garota “esquecer”. “Você não vai não. Esquece isso, minha filha, pelo amor de Deus”, suplica.Outro ladoO advogado de Jair, Fabiano Pimentel, afirma que seu cliente era um homem solteiro e que teve alguns relacionamentos amorosos, sem qualquer tipo de violência física ou psicológica em todos eles. “Não estou dizendo que elas estão mentindo, só que ele afirma que esses relacionamentos foram feitos de forma consensual”.A Grande Loja Maçônica da Bahia informou, em nota, que os direitos maçônicos de Jair Tércio foram suspensos e que “não tem responsabilidade sob os atos dessa pessoa”.