Um menino de 3 anos teve parte do pênis amputado após passar uma cirurgia de fimose em Malacacheta, Minas Gerais. O pai da criança contou que o cirurgião não admitiu e só percebeu a mutilação quando transferiu a criança para um hospital de Teófilo Otoni, que a submeteu a um procedimento de reconstrução da parte que sobrou do membro.Lá eu fui chamado para uma sala, onde me disseram -infelizmente houve a amputação do pênis do seu filho-. Aí eu fui pro chão, passei mal”. De acordo com informações do G1, o cirurgião responsável pela cirurgia, que consiste na retirada do excesso de pele no órgão genital, morreu em casa dias após o fato, ocorrido no Hospital Municipal Dr. Carlos Marx.A confirmação da morte do médico foi dada pela Prefeitura de Malacacheta, que até o momento disse não ter sido emitido o laudo com a causa da morte do cirurgião. A secretaria de Saúde informou ao G1 que, além do cirurgião, ainda participaram do procedimento um anestesista, um enfermeiro, um instrumentador e dois circulantes de sala. A secretaria disse ainda que solicitou a abertura de um procedimento administrativo.O pai explicou que pediu a enfermeira para trocar o curativo sujo de sangue e não conseguiu ver o membro. “Eu deixei o meu filho no hospital e minha mãe ficou de acompanhante. Eu fui para uma reunião de trabalho e quando retornei soube que tinha algo errado. A cirurgia que deveria ter durado uns trinta minutos levou cerca de quatro horas. Quando tirou o primeiro esparadrapo, tinha tipo uma gaze enrolada simulando que o pênis estaria ali no meio. Tudo ensanguentado. Quando levantou a gaze não tinha pênis visível. Fiquei doido, falei que isso não era normal.O pai conta que chamou o médico de plantão, porque o que tinha operado havia ido embora, e ele disse que não poderia avaliar porque não havia participado da cirurgia. Eu pressionei: -doutor, posso ficar tranquilo que tá tudo normal, então?-. E ele disse -não, eu não falei isso, só digo que não tenho condições de avaliar porque não participei da cirurgia-”, conta.E então foi atrás do prefeito e do secretário de saúde do município. “Eu mostrei a foto do meu filho e perguntei -isso é normal?-. Eu vi que ele [secretário de saúde] ficou espantado, mas continuou dizendo que estava tudo bem. Horas depois apareceu o médico que fez a cirurgia e disse que estava normal, disse -daqui dez dias vai começar a desinchar e vai dar pra ver o pênis dele-”.Mas o menino continuava a reclamar de dores na região, no dia seguinte o pai assinou um termo de responsabilidade e transferiu a criança por conta própria para o hospital de Teófilo Otoni. Na unidade, o menino passou por novos procedimentos cirúrgicos para avaliar o estado em que se encontrava e reconstruir o órgão.O pai da criança conta que o laudo do segundo hospital apontou que houve laceração do prepúcio e diz que somente no futuro poderá saber se o filho poderá recorrer a uma prótese. A conta da internação em Teófilo Otoni ficou em torno de R$ 10 mil e o pai afirma que precisou pegar dinheiro emprestado para pagar, pois não recebeu apoio ou assistência do município. Também falou que somente semanas depois, após o caso ter repercutido na mídia, a Prefeitura o ressarciu dos custos da segunda internação, porém não tem prestado assistência à criança.Ao G1, a Secretaria de Saúde disse que tem prestado apoio através das visitas domiciliares realizadas pela Equipe de Saúde da Família e ofertando consultas médicas e atendimento psicológico. Informou ainda que o pai foi ressarcido dos custos hospitalares no dia 4 de outubro e que tem contribuído com a Superintendência Regional de Saúde de Teófilo, através do Núcleo de Segurança do Paciente, para a investigação do ocorrido.InvestigaçãoA avó da criança procurou o promotor Roberto Vieira dos Santos, e o Ministério Público solicitou que a Polícia Civil investigasse o caso. O inquérito foi aberto na semana seguinte à cirurgia que amputou parte do membro do garoto. O MP aguarda a conclusão das investigações para avaliar as providências que serão tomadas.A delegada Mariana Grassi Colin informou que o crime de lesão corporal está sendo apurado. Segundo ela, os familiares já foram ouvidos e agora está ouvindo os membros da equipe que participaram da cirurgia. A intenção é apurar se o erro foi apenas do médico que o operou ou mais pessoas teriam contribuído para os danos sofridos pela criança.ReparaçãoO menino se recupera da cirurgia de reconstrução do órgão mutilado. Segundo o pai, ele continua sendo acompanhado pelo médico que fez a segunda cirurgia. “Agora é acompanhar a recuperação dele. É preciso ver como ele vai reagir, cuidar que ele receba os estímulos necessários para se desenvolver, para que sejam minimizados os danos”.O pai ainda lida com muitas perguntas que permanecem sem respostas a respeito da amputação indevida e as consequências dela, mas disse ter certeza de que será longa a batalha que o filho enfrentará para lidar com os danos do erro ao qual foi submetido. Para arcar com custos do tratamento de saúde da criança, o pai criou uma vaquinha virtual pedindo contribuições a quem possa ajudar. Até o momento a campanha já arrecadou R$ 10,3 mil na internet.“Deus tem colocado as pessoas certas no caminho e isso que tem nos dado força para encarar o que for preciso. Tenho milhares de perguntas. O que mais me deixa indignado é que os médicos que atenderam ele em Teófilo Otoni disseram que se o meu filho tivesse recebido atendimento correto desde o primeiro momento, podiam ter minimizado os danos. Se não tivessem omitido que algo havia dado errado na cirurgia, meu filho poderia ter sofrido menos. Agora quero saber o que aconteceu, quero justiça e quero que isso não aconteça com nenhuma outra criança”, conclui o pai.