Adriano tem 41 anos de vida e 10 de renascimento. A marca do tiro que carrega no peito é da pistola 9 milímetros disparada por um bandido durante assalto, 10 anos atrás, quando o empresário chegava em casa, no bairro Itanhangá Park, em Campo Grande. Com uma infância difícil e uma adolescência na qual trocou a escola pelo trabalho, a história da vida de Adriano passou como um filme em sua cabeça enquanto ele tentava sair do carro baleado. O assaltante chegou na janela do veículo e, com a pistola apontada para a cabeça dele, exigiu o celular. Na hora, Adriano não reagiu, mas se assustou e o bandido atirou em direção ao coração. Consegui sair do carro, rastejar e naquela hora tudo passa na cabeça. Vida, teu filho, tua história. Na verdade, a tua história é a tua falta, onde você vai chegar e faltar, descreve as cenas, Adriano Bravo.O empresário recorda que conseguiu descer do carro, cruzou a rua e caiu deitado. Fiquei igual Jesus Cristo, de mãos abertas, sem saber o que fazer, se alguém vinha me ajudar, me atender e ouvi voz me chamando, perguntando o que tinha acontecido, mas eu não conseguia falar, estava ficando sem ar, tinha perdido muito sangue e já tinha me entregado...O que ele se lembra, passado isso, era de acordar com gente de branco ao seu redor, sem saber onde estava, tentar se mexer e não conseguir. A descrição que Adriano faz se assemelha ao que a gente vê nos filmes, mas não acredita o quão surreal pode ser vivê-la e o tempo passado, ainda traz emoção. A voz embargada, as lágrimas se formam nos olhos e ele até precisa fazer uma pausa para retomar o fôlego.Junto da esposa há 26 anos, ele e Ana Paula se conheceram quando ela tinha 12 e ele 15. Foram vizinhos no Nova Campo Grande. Os pais dela eram contra o namoro, claro, pela idade. Mas o casal resistiu. Meu primeiro e único namorado. Meus pais proibiram por um tempo, eu era criança, mas ele, como sempre insistiu. Não aceita não e a gente acabou ficando, conta a também empresária, Ana Paula Bravo, de 37 anos.Aos 17 anos dela, depois que os pais foram embora, Ana Paula foi morar na casa de Adriano e um ano depois, engravidou do primeiro filho, Leonardo. Casar mesmo, não casamos de papel, essas coisas..., detalham.E até chegar ao Nova Campo Grande, foram anos trabalhando em outras regiões da cidade. Adriano chegou à Capital pequeno, de 5 para 6 anos, o menino do meio de uma família de cinco filhos que vinha de Cândido Mota, interior de São Paulo.Meu pai não tinha dinheiro para trazer a gente, ele veio primeiro de sacoleiro, batendo de porta em porta e nisso conseguiu carona para a gente vir pra cá, conta. O primeiro trabalho dele ainda menino foi o de vender jornal nas ruas e depois estampar camisetas, confeccionar cintos que levavam o sobrenome da família como marca, até chegar à loja Maffia.À época do tiro, Adriano recorda que exercia duas funções: financeiro da rede de lojas e proprietário de uma pizzaria na Furnas. Aí em 2005 foi o boom... Apaguei, acordei na Santa Casa e nessa trajetória toda, ouvi, vi uns vultos, pessoas e ouvia dizendo: vamos perder ele, vou perder ele e aquele barulho de máquina... lembra.Sem conseguir se mexer da maca, ele descreve como era a sensação de tentar reagir e não ter forças. Apaguei literalmente, acordei com um mundo de branco, meu corpo todo remendado. Não sabia o que tinha acontecido, olhei para tudo aquilo e perguntei se estava no céu, relata.Do outro lado, ouviu de um dos enfermeiros da equipe se ele era tão santo a ponto de ir direto para o céu e que na verdade, todos estavam tratando dele na Santa Casa. Você está aqui menino, olha o tanto de gente doente, teu caso foi grave, quase te perdemos... Aí a hora que eu vi ela, minha família, aponta para a esposa.O que os médicos relataram a ele foi que a bala pegou no peito, percorreu o diafragma, a costela e se alojou no fígado. Cheguei com 1,5l de sangue, pupila dilatada e pressão em 0,5. O médico assinou óbito para mim, resume.Uma semana depois da alta, Adriano retornou para o centro cirúrgico, a bala tinha perfurado parte do pulmão. Aí veio tudo de novo aquela história, mas voltei e graças a Deus, pronto, cheio de energia. Por isso eu falo que foi um boom, compara.O disparo, a sensação de quase ter partido e o filme que passou diante dos olhos de Adriano, fizeram com que ele desse mais valor, não só da boca pra fora. Mais valor a qualquer tipo de detalhe na tua existência, cada minuto que passa, o tempo é precioso, é curto, mas é o tempo que Deus me deu para um momento novo em mim, uma segunda chance, uma segunda vida. A esposa confirma, ouviu dos médicos que a família toda deveria rezar, para todos os santos possíveis.A sua volta foi porque Deus te salvou, olha aqui seu atestado assinado. O médico me mostrou o atestado de óbito dele assinado, jura Ana Paula. Levar um tiro no coração? Você foi testado e te deram mais uma chance, você está aqui, recorda as palavras do especialista. Adriano é pai de três: Léo, de 17 anos, Beatriz de 14, Duda de 13 e acompanha de pertinho o crescimento do caçula, Enzo, ainda na barriga de Ana Paula, com 5 meses de gravidez. Passei a administrar melhor a minha vida, meu trabalho, passei a ter uma cabeça mais lúcida, uma, sei lá... Visão diferente. Tudo mudou depois de 2005.(Campo Grande News)
Marca de tiro no peito é a prova da segunda chance na vida de empresário
Redação,
20/09/2016 às 03:00 •