Chinelo da vítima encontrado próximo a sua residência em aldeia indígena “Foi um dos casos mais chocantes que trabalhei, um ato de crueldade extremamente bárbaro”. A afirmação é do promotor de Justiça João Linhares Júnior, dias após acompanhar o caso da menina de três anos, que teria sido violentada, torturada e morta em uma aldeia indígena de Dourados. Nesta segunda-feira (1), a autoridade disse que aguarda a conclusão do inquérito policial e após isso pretende ajuizar uma ação penal contra os tios da vítima.As particularidades do próprio caso denotam que a vítima foi torturada, inclusive com água fervente e houve violência brutal em diversas partes do corpo, tendo uma perna fraturada, bumbum em carne viva e fortes indícios de que tenha sido vítima de abuso sexual. Após isso, ainda a tortura como meio de correção seguida de morte. Ambos os crimes foram revestidos de hediondez, afirmou o promotor.Após serem presos, a investigação pretende indiciá-los por estupro de vulnerável (8 a 15 anos de reclusão), tendo como agravantes o fato do crime ser praticado por duas pessoas, sendo parentes da menina. Além disso, o indiciamento por tortura (8 a 16 anos de reclusão), tendo também o aumento de pena.RepúdioAtuo como membro do Ministério Público há 15 anos e lembro da chacina de Canaã, quando duas crianças foram mortas com tiro na cabeça e isto causou maior repúdio. Neste caso, os investigados negam o crime e falam que as lesões são por conta de um acidente de moto. Já a água fervente seria meio de correção, porque a menina fazia necessidades físicas nas calças”, explicou Linhares.No entanto, a polícia fala que “a versão não se sustenta”. “Os legistas falam sobre abuso sexual e também houve um flagrante. Eles confessaram a água quente, mas negam o estupro e a intenção de torturar. Os indicativos são de que o casal tenha colaborado para este morte. Estamos aguardando a remessa ao MP para ajuizar a ação penal”, disse o promotor.Questionados se usavam bebidas alcoólicas ou drogas, os envolvidos disseram que não. Eles também não possuíam antecedentes criminais. A audiência de custódia foi feita na última sexta-feira (29).Entenda o casoA criança foi levada na última quinta-feira (28) para o hospital da reserva indígena, porque, segundo os tios, a menina teria sofrido um acidente de bicicleta. No hospital, conforme o registro policial, os médicos constataram que a criança tinha fratura no maxilar e em uma das pernas, hematomas no rosto e vestígios de violência sexual. O Conselho Tutelar foi acionado e avisou a polícia.A criança foi transferida para o Hospital da Vida devido à gravidade dos ferimentos, mas não resistiu e morreu à noite. Os suspeitos foram presos também na mesma noite, em casa, na aldeia Bororó. Os suspeitos são tios da criança. Ele é irmão da mãe da menina e ela, esposa dele. O casal tem a guarda da pequena desde 2 de dezembro de 2015, segundo boletim de ocorrência, porque a mãe dela está presa.