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Brasil sedia, pela primeira vez, Congresso Internacional de Matemática

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(Foto: Divulgação)
Começa nesta quarta-feira (1º), no Rio de Janeiro, no RioCentro, o Congresso Internacional de Matemáticos (ICM 2018, na sigla em inglês), que vai reunir, até o dia 9, cerca de 2.500 pesquisadores dos cinco continentes.A agenda terá 1.200 palestras, painéis de debates e comunicações, além de 40 eventos científicos paralelos em todo o país, como o World Meeting for Women in Mathematics, o (WM)2 que discutiu ontem (31) questões de gênero na matemática.O primeiro ICM foi realizado em 1897, em Zurique, Suíça. Ele é organizado a cada quatro anos pelo país-sede em parceria com a União Matemática Internacional (IMU).Esta é a primeira vez que o encontro ocorre em um país do hemisfério sul. No Brasil, o evento integra o Biênio da Matemática do Brasil 2017-2018, parte das ações nacionais e internacionais destinadas, entre outros objetivos, a incentivar o estudo da disciplina, popularizá-la e promover atividades que contribuam para aproximá-la do público.O diretor geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), Marcelo Viana, também presidente do Comitê Organizador do ICM 2018, explica que o Brasil passa por um momento histórico e de reconhecimento do avanço das pesquisas na área conquistadas pelo país.“Há 70 anos praticamente não havia pesquisa em matemática no país. [O avanço] já foi reconhecido no começo do ano quando o Brasil foi promovido ao grupo 5, o grupo máximo da União Matemática Internacional, que reúne as 11 nações mais avançadas na área”, afirma.Para Viana, a escolha do Brasil como sede também faz parte desse reconhecimento. Ele destaca que o objetivo principal do ICM 2018 é ser um instrumento para ajudar a popularizar a matemática e torná-la mais próxima da sociedade.“Estamos convidando escolas para participar do evento, com atividades desenhadas para crianças e professores, e acredito que vai ser um grande sucesso, vai ter um impacto significativo nessa aproximação da matemática com a sociedade brasileira. O Biênio foi a realização desse objetivo que nós tínhamos já ao apresentar a candidatura para o congresso, é um evento charmoso, que chama a atenção”, argumenta.Durante nove dias, haverá mesas redondas sobre temas como distribuição de gênero, história da matemática, desenvolvimento da matemática nos países em desenvolvimento e o impacto que a tecnologia tem na matemática.“Uma pergunta que está começando a assustar a gente é se máquinas vão ser capazes de provar teoremas daqui a pouco, isso vai causar desemprego generalizado na minha tribo. São discussões normalmente com conteúdo técnico. Mas algumas têm pretensões políticas, como a questão da publicação, porque quando o matemático publica, ele não ganha nada com isso e cede os direitos para as editoras, que ganham bastante dinheiro com isso”, diz Viana.Popularização da ciênciaEntre as atrações do ICM 2018 estão palestras para ajudar na popularização da ciência. A diretora de divulgação científica do Instituto Serrapilheira, um dos apoiadores da iniciativa, Natasha Felizi, explica que foram selecionados pesquisadores que tenham habilidade de comunicação com o público.Serão cinco palestras abertas ao público, com os franceses Cédric Villani, ganhador da Medalha Fields 2010, e Étienne Ghys, pesquisador honorário do IMPA e vencedor do Prêmio Clay de Divulgação Científica; a belga Ingrid Daubechies, da Duke University (EUA), conhecida pelo trabalho inovador aplicado às comunicações modernas; o japonês Tadashi Tokieda, da Universidade Stanford, que falará sobre a Matemática dos Brinquedos, e o português Rogério Martins, da Universidade de Lisboa, apresentador do programa de TV “Isto é Matemática”.Outro lado do ICM 2018 é o apoio para a participação de matemáticos de países pobres. Este ano, o programa Braços Abertos, uma tradição do congresso e responsabilidade do anfitrião, ofereceu 630 bolsas para matemáticos da África, Europa do Leste, América Latina e Ásia-Pacífico e mais 250 para brasileiros.Nobel da MatemáticaDurante o ICM será feita a entrega da mais importante premiação da matemática mundial, a Medalha Fields, conhecida como “Nobel da Matemática”, destinada aos destaques da área com menos de 40 anos.Na última entrega, em 2014, entre os vencedores estava o brasileiro Artur Ávila, pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, primeiro latino americano e lusófono a receber o prêmio.Os outros premiados de 2014 foram o norte-americano Manjul Bhargava, o austríaco Martin Hairer e Maryam Mirzakhani, primeira mulher e primeira iraniana a receber o prêmio. Ela faleceu no ano passado, vítima de câncer de mama.O anúncio dos ganhadores da Medalha Fields ocorrerá na manhã de hoje, durante a cerimônia de abertura do evento. O diretor do Impa destaca que, pela primeira vez, os medalhistas de ouro da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) vão acompanhar a entrega do mais importante prêmio da área.“Nunca foi feita essa conexão, também ninguém tem uma olimpíada como a nossa. Nós vamos ter a garotada na abertura, no auditório do Pavilhão 6, presenciando a revelação dos nomes da Medalha Fields, e, no dia seguinte, eles vão ganhar a medalha deles no mesmo palco. É uma experiência que os garotos e garotas não vão esquecer nunca”, explica Viana.Também serão entregues no ECM 2018 os prêmios Nevanlinna, Gauss, Chern e Leelavati, durante um jantar, no sábado.LegadoPara fechar o Biênio da Matemática no Brasil, ocorre a segunda fase da Obmep, em setembro. Segundo Viana, para além do biênio o Impa pretende tornar bienal o Festival da Matemática, realizado em abril do ano passado no Sesc, na Escola Eleva e na Nave do Conhecimento, no Engenhão, no Rio de Janeiro.“A experiência de organizar o primeiro foi muito gratificante, mas também nos ensinou muita coisa, a gente não tinha ideia, era um evento completamente diferente começar a falar em colocar matemática e diversão juntos. O segundo vai ser ainda melhor que o primeiro, queremos que tenha mais participação da iniciativa privada e desenvolva novas dimensões que o festival pode fazer para popularizar a matemática. Então, o biênio certamente vai deixar um legado”, finaliza Viana.